Dr. Marco Aurelio esclarece questões sobre endometriose no programa Uerj Entrevista

O Dr. Marco Aurelio esclareceu algumas questões como sintomas e tratamentos da endometriose em entrevista para o programa Uerj Entrevista.

O que é endometriose?

A endometriose – doença (ose) do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) – ocorre quando o endométrio não está em seu lugar correto. Isto é, quando esse tecido está do lado de fora do útero, encobrindo outros tecidos dentro da barriga e da pelve.

Todo mês, quando a mulher menstrua, parte do endométrio é eliminado pela vagina junto com o sangue e outra parte reflui para o abdome, através da tuba uterina. Esse material que volta cai dentro da barriga e da pelve, grudando em vários órgãos como ovários, tubas, intestino, bexiga e apêndice. Enfim, qualquer órgão nessa região pode ser atingido.

Com o passar dos anos, o volume de endométrio grudado em órgãos do abdome e da pelve vai aumentando. Ao crescer, ele sangra e infiltra esses órgãos, provocando dor. Quanto mais menstruações acontecerem, mais dor a mulher sofrerá.

Então, ao longo do tempo, e se a mulher tiver propensão genética, quanto mais ela menstruar, mais risco terá de desenvolver a doença. Uma em cada quatro mulheres desenvolve endometriose. Ela é uma das principais causas de infertilidade feminina e provoca dor pélvica crônica, com cólica menstrual muito dolorosa, irradiando-se para outros pontos e provocando dor ao evacuar, ao urinar e durante a relação sexual. Resumindo, leva à dor intensa e causa infertilidade.

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Por que o senhor se dedicou ao estudo dessa doença?

Nós montamos esse ambulatório em 1997, devido à frequência e à gravidade da doença. A gente recebia muitas pacientes com esse problema, e não havia nenhum lugar específico para o tratamento. Elas se sentiam perdidas. Então, pelo volume de casos e pela gravidade da doença, a gente decidiu montar o ambulatório focado no diagnóstico e tratamento da doença.

À época, já se conhecia a doença com esse nome?

Sim. Mas se ainda hoje existem tantas dúvidas a respeito da doença e muitas pessoas nem a conhecem, imagine há praticamente 20 anos! Hoje, a gente consegue divulgar o problema, mas ainda bem aquém do ideal.

A sua obra publicada pela Di Livros Editora responde a algumas dúvidas. O senhor poderia nos contar algumas?

Sim, são muitas perguntas nesses 25 anos de experiência. Eu selecionei cerca de 120 para responder de forma objetiva e prática. Por exemplo:

Endometriose provoca câncer?

Não, até porque existem várias situações que podem desencadear um câncer. Não é esse o problema da endometriose. O problema é dor, é infertilidade.

A pílula pode piorar a doença?

Não, ao contrário, desde que usada de forma contínua, sem pausa para menstruar, ela tem efeito protetor. E por quê? Porque a endometriose vem da menstruação. Porque qualquer coisa que se faça para bloquear a menstruação é muito útil, tanto no tratamento como para evitar o surgimento da doença. Existem duas maneiras de se bloquear a menstruação: uma é natural. A mulher pode engravidar e amamentar por toda a vida, tendo quatro, cinco, oito filhos, ou seja, engravidar continuamente. Dessa forma, ela vai menstruar bem menos vezes. Antigamente as mulheres casavam cedo e começavam a ter filhos aos vinte e poucos anos. Hoje, elas querem ter filhos com mais de 30 anos e somente um ou dois. Então, menstruam muito mais. A segunda melhor forma é usar a pílula contraceptiva de uso contínuo, bloqueando a menstruação.

Quais são os principais sintomas que indicam a presença da endometriose?

Às vezes a pessoa já tem endometriose e acha que não tem. A dica clínica que a gente dá é ficar atenta à cólica menstrual. A mulher sente cólica, sente dor e acha que isso é normal. Nenhuma dor é normal. Então, cólica é um sintoma. A gente aceita a cólica como não sendo uma doença quando ela é de fraca a moderada. Isto é, quando, numa escala de 0 a 10, a mulher dá nota até 4 ou 5. Se a nota de intensidade da dor for acima de 7, principalmente, entre 8 e 10, dificilmente é cólica normal. Então, o primeiro sintoma é a cólica intensa. Aquela que, muitas vezes, a impede de ir trabalhar, de ir para escola. Uma dor que a faz ir ao hospital tomar remédio na veia, porque o remédio que tomou em casa nem sempre resolve.

Então, se há muita dor, procure o médico. Ou se está há mais de um ano tentando engravidar e não consegue, procure o médico, porque pode ser endometriose. É claro que, na dificuldade para engravidar, vale investigar no homem também, mas pode ser endometriose.

O tratamento da endometriose é sempre cirúrgico ou com medicamento ela pode regredir?

É, regride um pouco, mas nenhum medicamento consegue eliminar o foco por completo. O remédio pode atrofiá-lo e reduzir a dor, mas se a pessoa interromper o tratamento, o foco volta a crescer. Há também o fato de que os remédios que bloqueiam a menstruação impedem a mulher de engravidar. Então, aquelas que têm dor, não conseguem engravidar e querem ter filhos não podem usar esses remédios.

Essas mulheres que têm endometriose e querem engravidar só têm dois caminhos: cirurgia ou fertilização in vitro (técnicas de reprodução assistida). Aí, se ela vai fazer uma ou outra depende de vários aspectos. Isso já é mais complexo.

Então, a chance que existe de cura é com ressecção cirúrgica completa. Normalmente, isso é feito por laparoscopia, que é uma cirurgia menos invasiva. Mas vale ressaltar que, mesmo com a retirada desses focos, se a mulher voltar a menstruar por muito tempo, existe o risco de a doença voltar, embora lentamente.

Quando ela tem dor, normalmente a cirurgia é a única solução, porque a fertilização não melhora em nada esse quadro. Resumindo: casos graves, cirurgia; em casos mais leves, sem dor e quando a mulher quer engravidar, pode-se optar pela fertilização.

A cirurgia exige quantos dias de internação?

Depende da gravidade. A endometriose pode ter um foco de 1 cm no ligamento como pode ter três focos no intestino, fechando e obstruindo o órgão. Pode também dilatar o rim, pode necessitar de reimplante do ureter, o que vai resultar em uma cirurgia mais longa, de 4 ou 5 horas, e a paciente pode ficar de quatro a sete dias internada para podermos observar a ressecção, seja intestinal, de bexiga, o que for necessário.

Por outro lado, se o foco é somente no ligamento ou num ovário, se for alguma coisa menos avançada, ela pode ficar apenas um dia internada.

Onde o seu livro Endometriose profunda pode ser encontrado?

Quem quiser adquirir o livro, pode encomendar no site da Editora Di Livros (www.dilivros.com.br) ou na Livraria Travessa. É provável que, futuramente, seja vendido também na Livraria Saraiva.

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