Infertilidade acomete de 30 a 40% das mulheres com endometriose
A endometriose acomete 176 milhões de mulheres no mundo, sendo seis milhões só no Brasil. A doença ocorre quando há crescimento de tecido uterino (endométrio) fora do útero, como na cavidade abdominal e nos ovários. Como os principais sintomas da doença — dor durante as relações sexuais, cólica menstrual intensa, alterações no hábito intestinal (diarreira ou prisão de ventre) e infertilidade — são facilmente atrelados a outros males ou silenciosos, o diagnóstico muitas vezes é feito tardiamente.
Como a infertilidade acomete de 30% a 40% das mulheres com endometriose, a hora de planejar a gravidez é repleta de dúvidas para quem recebe esse diagnóstico. Pensando nisso, o UOL reuniu nove perguntas e respostas sobre endometriose e gravidez:
Fontes: Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia Obstetrícia e Medicina da Reprodução), e Marco Aurelio Pinho de Oliveira, chefe do Ambulatório de Endometriose do HUPE-UFRJ (Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e autor do livro “Endometriose Profunda — O que Você Precisa Saber” (editora DiLivros).
1 – De que maneira a endometriose causa infertilidade?
A doença pode causar aderências extensas entre os órgãos, ou seja, deixá-los grudados uns nos outros, o que faz com que ocorra o fechamento ou entupimento das tubas uterinas, impedindo o encontro entre o óvulo e o espermatozóide. Além disso, por conta das aderências, a tuba e o ovário podem ficar fixos ou distantes um do outro, o que impede a captação do óvulo produzido pelo ovário. A receptividade do embrião no endométrio — local em que ele se implanta — também sofre alterações graças à ação de substâncias produzidas pela doença.
2 – A gravidez é benéfica para quem tem endometriose?
Como muitas pacientes com endometriose tem queixa de infertilidade, a gestação sempre costuma ser bem-vinda. Durante a gravidez existe a produção da progesterona, hormônio que dificulta o crescimento dos focos de endometriose, mas essa produção hormonal não é capaz de eliminar os focos de endometriose. Portanto, ainda que a gravidez seja benéfica para quem tem endometriose, ela não é capaz de curar a doença, apenas deixa os focos sem crescimento.
3 – Mulheres com endometriose têm maior risco de sofrer aborto?
Não necessariamente. Alguns estudos relacionam a doença a um maior risco de abortamento, no entanto, vários especialistas discordam, pois há causas mais relevantes que levam ao aborto, como malformações uterinas. A endometriose aumenta o risco de gravidez ectópica (que ocorre fora do útero). No entanto, caso a mulher tenha um histórico de abortos recorrentes, o especialista pode indicar a retirada dos focos de endometriose por meio de cirurgia.
4 – O bebê de quem tem endometriose corre o risco de nascer com problemas?
Não. Nenhum estudo comprova que exista qualquer relação entre a endometriose e a chance de ter um bebê com problemas. O risco de malformações e problemas genéticos é igual ao de uma mulher que não tem a doença.
5 – Gravidez de quem tem endometriose é considerada de alto risco?
Não. A gestação é semelhante a da não portadora da doença. Como o hormônio da gravidez (progesterona) dificulta o crescimento dos focos da endometriose, a gestação protege a mulher da doença, ainda que não seja capaz de curá-la. No entanto, em casos graves de endometrioses extensas que atinjam o intestino ou os ureteres, é possível que a gestante precise passar por uma cirurgia de urgência para desobstruir o intestino ou as vias urinárias.
6 – O exame para detectar endometriose aumenta as chances de gravidez natural?
A HSG (histerossalpingografia) é feita em centros radiológicos e avalia se a cavidade e as tubas uterinas estão comprometidas pela endometriose. As mulheres que fazem o exame costumam ter mais chance de engravidar até seis meses depois do procedimento. O médico introduz uma pequena cânula no colo do útero e injeta uma substância radioativa que percorre o interior do útero e das tubas. Quando as tubas estão abertas, o líquido cai dentro da barriga, o que é comprovado na radiografia. Nessa avaliação, ocorre uma espécie de “lavagem” do interior da tuba, que pode desobstruir pequenas aderências. Além disso, a própria substância utilizada traz benefícios para as células das tubas, facilitando o encontro do espermatozóide com o óvulo.
7 – O uso de hormônios aumentam as chances de engravidar?
Não. Nenhum hormônio é capaz de aumentar as chances de engravidar naturalmente nas pacientes com endometriose, porém o uso de análogos do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) antes da fertilização in vitro aumentam as taxas de gravidez no tratamento.
8 – Quais opções de tratamento para a infertilidade da mulher com endometriose?
Há dois tipos de tratamento: a cirurgia ou as técnicas de reprodução assistida. A cirurgia para retirar os focos de endometriose deve ser realizada preferencialmente por laparoscopia —
procedimento minimamente invasivo — e a taxa de gravidez natural chega a 50% dos casos. Nas técnicas de reprodução assistida, há as opções de inseminação artificial ou FIV (fertilização in vitro). No caso das mulheres que não apresentam nenhum problema nas tubas uterinas, a inseminação artificial — colocação dos espermatozoides no útero — é uma boa opção. No entanto, caso a paciente tenha uma endometriose profunda, a indicação é a FIV. Nela os embriões já fecundados são inseridos no útero, pois a doença dificulta o processo de captação do óvulo pelas tubas uterinas.
9 – Fertilização in vitro prejudica a endometriose?
Não necessariamente. Para realizar a fertilização in vitro é necessário um grande estímulo dos ovários, levando a um aumento acentuado dos níveis do estrogênio, o que pode fazer com que os focos de endometriose cresçam mais rapidamente. Caso a paciente tenha uma lesão grave no intestino ou nas vias urinárias, podem ocorrer obstruções nesses órgãos, quadro considerado grave.